Thursday, November 09, 2006

A verdade e meu pai.

Meu pai é um sujeito bastante sincero. Tão sincero que às vezes incomoda. Ele acha que eu sou uma farsa e não acho que eu seja mais que isso. Eu tento ser outras coisas, mas sempre ele vai estar lá nas arquibancadas da vida não exatamente torcendo por mim, mas fazendo de tudo para roubar o lugar do técnico e gesticular alguns gestos obscenos apontando que tudo está indo pelo buraco.
Eu não acredito que tenhamos de nos conformar com tudo nesta humilde vida, mas também não acredito que o pouco seja suficiente e que o muito, bastante esteja tão longe de ser suficiente. O que quero dizer é que por mais que a gente tente, nossa sina é ser medíocre; porque tudo o que podemos é acumular conhecimento o bastante sobre determinado assunto, bem como podemos saber um bocado sobre várias coisas, bem como podemos nem nos interessar por bosta nenhuma e sermos considerados apenas um fazedor de volume nesta grande bacia d'água chamada de Terra. E mesmo que você acumule conhecimento o bastante para dar pitaco em algum paradigma extremamente incrustado, isso não te dá garantias que seu nome entrará para a História da humanidade. E muito menos para a história do seu bairro. Felizmente eu sou uma pessoa de sorte que moro em uma rua que teve um assassinato famoso. E ainda assim eu sou uma pessoa anônima. Uma Beta ninguém.
Meu pai é um ser extremamente pensante e cobra de mim em seus discursos que ele diz não ter um mínino cunho de cobrança, a minha evolução intelectual. O meu grande trunfo de pobre. Porque é aquela velha história "minha filha, eu não sou ninguém e não tenho herança para deixar, mas se você estudar, pelo menos um mínino de dignidade você pode obter em sua vida"; porém, devido à entonação em suas palavras, ele quer dizer "Estuda, desgraça! Porque eu já estou cansado de não ter ninguém à altura para conversar!". E ele reclama... joga na minha cara que a única coisa que eu sei fazer é virar noites assistindo Lost - "o que esperar de uma geração genuinamente audiovisual"- que o que sei fazer de melhor é ficar à toa no messenger trocando impressões diárias de uma vida vazia com meus amigos. O que eu sei fazer de melhor é fingir que eu sei de alguma coisa quando eu nem tenho conhecimento histórico para me posicionar diante do mundo. Enquanto isso, a única coisa que ele sabe fazer é acreditar piamente (mesmo que ele diga que não seja isso) que eu com meus 21 anos consiga obter uma visão crítica e uma bagagem literária que ele adquiriu em seus cinqüenta e poucos. E é óbvio, o fato de eu não ter participado da década de ouro, a década de 70.
E eu nem estou me fazendo de vítima. Eu estou tentando.

3 Comments:

Blogger Arthur Chaves said...

O meu adora me cobrar dinheiro. Que devo ser rico, pra não sofrer como um jumento.

Pai é um saco, devia parar de opinar na vida dos filhos aos 50.

5:04 PM  
Anonymous Anonymous said...

Eu nem falo nada. Meu terapeuta já está com o ouvido inchado.

11:02 PM  
Blogger Francis J. Leech said...

Beta, com o devido respeito ao seu pai, eu acho o seguinte:

A década de setenta foi ridícula. E todo mundo que viveu nela se acha especial demais por ter construído as bases do mundo contemporâneo, principalmente no brasil com toda aquela história de ditadura militar e tal. Toda aquela ingenuidade de um mundo que precisava torturar pessoas por não saber utilizar o poder da informação pra castrar a rebeldia das pessoas dá uma impressão de que todos que faziam faculdade naquele tempo eram grandes heróis enquanto nós, nada mais somos que um subproduto da indústria cultural.

Não penso que seja assim, acho que o fato de termos uma bagagem em um mundo de desinformação nos torna muito mais "heróicos" se é que existe tal coisa.

Morte ao caetano veloso!

9:36 AM  

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